Concurso "Olimpíada de Lingua Portuguesa"
Gênero: Memória Literária
O tempo não deu pausa
Aluna: Gleiciane Ingrid de Oliveira Santos
Não se apagaram da minha memória as doces e
amargas lembranças do lugar onde nasci e me criei. Naquela época morávamos em
um bairro que tinha a cara da pobreza de tudo. Lembro-me daquelas casinhas de
taipas, de um povo que possuía o fardo pesado da necessidade, sem oportunidade,
sem escolaridade e visto pela indiferença. As dificuldades eram gigantescas, mas
eu era uma criança feliz no meu São Sebastião, zona norte, conhecido também como
o outro lado do rio, devido ao rio Seridó que o separa do centro da cidade.
O rio era a coisa mais linda de se ver! Sua
exuberância enchia os nossos olhos de tanta beleza e nos contagiava de alegria.
O banho da meninada era algo imperdível, eles se divertiam com os seus shows de
cambalhotas na água transparente que dava para ver a areia branquinha. As lindas
borboletas de todas as cores bailavam sobre as verdejantes plantações. Como era
maravilhoso! O rio que acendia o nosso sorriso, era para mim um símbolo de
pureza.
As lavadeiras reuniam-se todas as manhãs para
o seu oficio diário, usufruindo das águas límpidas do rio, cada uma sob a sombra
daquelas palhocinhas, feita com a palha de coqueiro, para se proteger do sol
ardente, que ao amanhecer do dia, aparece no horizonte entre uma serra e outra,
o famoso Boqueirão, cartão postal da cidade, no qual passava o rio. Eu, muito
criança ajudava a minha mãe carregando água para encher a bacia. Em cada
batedor de roupa havia uma cacimba para acumular a água da lavagem das roupas. Era
muito bonito, quando elas estendiam as roupas para quarar, formavam aquele
tapete colorido sobre a areia molhada, nas duas margens do rio.
No período de intensas chuvas ficávamos todos
ilhados, e quando precisávamos ir até ao centro de minha tão amada Parelhas,
pegávamos um desvio grande por trás da subestação, tornando a nossa caminhada
muito longa. Hoje, aquele cenário ornamentado por belos coqueirais, já não
existe mais, restando apenas à saudade de uma paisagem encantadora, e de um
tempo que jamais terá retorno, pois as águas foram impedidas de correr no rio,
após a construção da barragem Boqueirão, o maior reservatório do município que
há muito tempo não consegue encher devido a grande escassez de chuvas, que vem
assolando a nossa região.
Recordo-me, com saudade de uma figura
fenomenal que carinhosamente chamávamos de Tilico, um grande representante do povo,
um personagem amante dos esportes, que há anos já não está mais entre o nosso
convívio. Seu amor pelo esporte foi uma influência marcante no bairro. Através
do seu incentivo com a prática esportiva, e da sua luta com as demais parcerias,
as mudanças foram acontecendo gradativamente.
Ainda, lembro-me da primeira televisão preto
e branco de poucas polegadas que o vizinho comprou, foi uma grande novidade na nossa
comunidade, as pessoas se reuniam para assistir. E quando tinha jogo de futebol,
juntava gente demais! Foi bem na época dos trapalhões, eu ficava encantada, e
como não tinha TV, ia assistir na casa do vizinho.
Ah, se eu pudesse voltar ao passado, daria
uma pausa na época da minha mocidade, porque as terríveis dificuldades já
tinham nos esquecidos, e a tranquilidade respirava a paz no coração das pessoas.
Nunca me esqueci do cinema, foi a melhor época, uma ótima diversão para os
jovens, e quando me recordo desse momento, sinto uma saudade imensa das velhas
amizades do tempo da minha juventude. Hoje, não há mais o cinema que nos trazia
tantas alegrias, a tranquilidade está sendo levada sem a nossa permissão. Confesso
que, sinto uma dor na alma ao vê tantos jovens se desvirtuando dos seus
princípios, e caindo nesse buraco negro chamado drogas, muitas vezes sem volta.
Atualmente, apesar de o bairro ter outro
visual, com a construção de praças, escolas, igrejas, posto de saúde, ruas
pavimentadas, casas de tijolos, ainda carrega até hoje a marca do preconceito. Não
moro mais lá naquele lugar, mas ele terá sempre a minha eterna estima, e o
sonho de fazer algo para melhorar cada vez mais.
(Texto baseado na
entrevista feita com a senhora Maria Lúcia do Nascimento Fonseca.)
Professora: Maria
José da Silva
Escola Municipal
Arnaldo Bezerra, Parelhas (RN)
O aroma das plantas
Aluna: Maraiza da Silva Dantas
Foi na zona rural onde vivi os primeiros vinte
e cinco anos da minha vida. Sítio Castelo era um lugar pouco conhecido, eu
lembro como se fosse hoje. Naquele tempo, o meio rural era um paraíso verde,
era bom demais, acordar de manhã cedinho e sentir o aroma da vegetação, ouvir o
canto dos pássaros em coro, parecendo uma orquestra sinfônica. A natureza vivia
em pleno sossego e harmonia, nos dava o prazer de respirar um ar puro sem
nenhum vestígio de poluição e de sentir aquele cheirinho de terra molhada depois
da chuva passar.
O
suado trabalho nos garantia à sobrevivência. Era dos abençoados roçados que
tirávamos a saudável alimentação, pois não tinha o uso dos estúpidos
agrotóxicos. O alimento era preparado em casa. O cheiro da canjica e da pamonha
compensava o cansaço do dia. A casca do arroz era tirada no pilão e o milho era
moído em moinho para se fazer o cuscuz. As dificuldades eram enormes, porém as
pessoas eram felizes, todos tinham o objetivo de viver bem, tinham zelo pelo
outro e principalmente pelo meio ambiente.
Lembro-me
da intensa luta diária, que quase não sobrava um tempinho para as minhas
brincadeiras de criança que eu tanto gostava. As bonecas de milho com seus lindos
cabelos longas e a galinha de pereiro eram os meus brinquedos preferidos, pois
não tinha outro. Nunca me esqueci das brincadeiras de passar o anel,
brincadeira de roda, em que não existia malícia ou segundas intenções, apenas a
cabeça inocente de uma criança.
Tenho
boas lembranças dos momentos que tínhamos a liberdade de ficar sentados nas
calçadas à noite para uma boa prosa com vizinhos e amigos. Naquela época, não
tínhamos televisão, o nosso único meio de comunicação era um radinho de pilha,
não tínhamos energia elétrica em nossas casas, apenas a humilde lamparina a
pavio de algodão e alimentada com querosene, mas vivíamos tranquilamente, sem
medo dessa violência que hoje tira o sossego das nossas famílias.
Depois
que começaram a desarrumar o nosso meio ambiente, as condições de vida ficaram
cada vez mais difícil. O ar que respirávamos já perdeu sua pureza, a vegetação que
tanto embelezava os campos está descolorida, chega dar vontade de chorar,
parece que estou ouvindo o gemido das poucas árvores que ainda restam,
agonizando com o corte cruel do machado, penso que é a natureza clamando por socorro
e ninguém quer entender.
Atualmente,
há um desgaste desenfreado no meio ambiente, onde existe um êxodo rural muito
grande devido à falta de chuva, pois com o subsolo seco, tudo o que se planta não
floresce. As casas que antes eram o aconchego de muitas famílias, hoje são verdadeiros
depósitos de solidão e abandono. E na cidade, só tem aumentado o desemprego e a
violência.
Em 1983 mudei-me para Parelhas, uma cidade
pacata, calma, onde a paz suspirava o amor. Lembro-me, que naquela época ainda
existia um cinema, era a melhor diversão para os jovens. Aqui, era para mim
outra realidade, continuei meus estudos e me tornei pedagoga. Foi o estudo quem
me proporcionou uma melhor condição de vida.
Hoje, apesar das dificuldades vividas na
infância, sinto muitas saudades daquele tempo de criança e juventude! Todos
estão vendo a minha emoção estampada no meu rosto ao fazer esta viagem no meu
passado e recordar os momentos especiais dos lugares onde morei que estavam guardados
na minha memória e no meu coração.
(Texto baseado na entrevista feita com a senhora Cleide
Salustio Trindade Silva.)
Professora: Maria José da Silva
Escola Municipal Arnaldo Bezerra –
Parelhas (RN)